terça-feira

(Untitled) I. Capitulus

A luz oscilante delineada por uma ferradura negra acima de sua cabeça era tudo que podia ver. Não fosse o som das folhas ao vendo, o silêncio só daria lugar a sua respiração ofegante e trêmula.
Sorte estar quente, pois definitivamente estava úmido... que combinação dolorosa e fatal seria.
Impressionante! Pensar no conforto que a temperatura amena proporcionava apesar de tudo que vinha acontecendo. Sentia suas roupas rasgadas... não tinha certeza se mais incomodavam as raízes secas que esfolavam seu tronco ou as finas e longas hastes que pincelavam delicadamente sua pele, causando seguidos calafrios apenas menos intensos que aquele choque quase sobrenatural a subir por sua espinha, terminando por eriçar seus cabelos e causando arrepios pela nuca toda vez que seus pés descalços eram arremessados com um pouco mais de força contra o chão enlameado, que há algum tempo havia fluido por entre seus dedos.

Suas mãos eram a parte menos dolorida, porém não menos sujas. Percebia a falta de resistência das raízes que quebravam ao serem agarradas, a terra sob suas unhas as faziam parecer se partir ao meio quando do esforço em vão para ascender. Os ombros constituíam a última chance de se limpar os olhos.
Exausto e a beira da desistência solta um urro gutural, quase ancestral. Embora soubesse que deveria poupar forças, aquele desabafo parecia vir do fundo de sua alma confusa e, de alguma forma, lhe atribuiu algum ânimo. Até quando iria suportar? O tempo não era amigo, e sua simples existência passiva e absoluta lhe causava extremo desespero. Enquanto seu corpo desistia das últimas tentativas, sua mente procurava por todos os lados motivos para que a esperança não o deixasse...